Teste vocacional: Funciona? Devo fazer?

Você não está satisfeita com sua carreira atual, mas não sabe como descobrir seu novo caminho profissional? Está se questionando se deve fazer um teste vocacional para descobrir qual a profissão ou trabalho ideal para mim?

Vamos investigar se essa é a melhor opção para você em 5 tópicos.

1. Efeito Priming ou Nudge 

Vou te explicar dois conceitos da neurociência para você entender a aplicação de um teste vocacional, ok?

O Efeito Priming – também conhecido como Nudge ou pré-ativação – é um fenômeno estudado pela neurociência que impacta diretamente todas as nossas escolhas e durante a realização do teste vocacional a ocorrência desse fenômeno fica ainda mais evidente. 

O nome priming vem de primeiro, como algo que vem antes. Já nudge significa empurrão e quer dizer que um evento recente te empurra em alguma direção. 

Ou seja, nesse fenômeno, um estímulo inicial – por exemplo: você encontrar um profissional muito feliz em sua profissão logo antes do teste – afeta as suas respostas aos estímulos subsequentes, sem que ao menos você tenha consciência sobre tal influência. 

Desse modo, esse estímulo externo pode ter um impacto determinante no resultado do seu teste vocacional, pois você tende a se influenciar por esses estímulos e deixar de considerar opções que não o levem em consideração.

Ou seja, você fica com o olhar tendencioso, como se fosse um óculos com a lente embaçada. 

Ainda que você seja uma pessoa “muito racional” você será influenciada por esse efeito

2. Profissões tradicionais x Profissões inovadoras

Os testes vocacionais normalmente priorizam profissões tradicionais. Os testes vocacionais não conseguem acompanhar a evolução do mercado de trabalho e surgimento de novas profissões. Sendo assim, não é coincidência que o resultado do seu teste vocacional te indique algo como arquitetura, direito, medicina ou engenharia.

Muitas pessoas não se identificam com as profissões tradicionais, por esse motivo o resultado do teste vocacional não fará tanto sentido para elas. Outras pessoas até se identificam com as profissões tradicionais, mas perderão a oportunidade de explorar profissões diferentes ou mais inovadoras que talvez as fizesse mais felizes. 

3. Autoconhecimento profissional não é estático

Ao receber o relatório com a profissão que mais se aproxima do seu perfil, você terá a impressão que “está tudo resolvido”.

Na verdade, o seu autoconhecimento não é estático, logo, o seu futuro não está determinado neste relatório. Ele é mutável, podendo ser alterado por mudanças da sua personalidade, seu contexto de vida, ou do mercado de trabalho.

A verdade é que seu temperamento e o seu futuro vai sendo moldado a cada experiência nova que você vive, você vai aprimorando seu autoconhecimento e descobrindo coisas sobre você, explorando novas possibilidades. Portanto, o nosso autoconhecimento profissional e as nossas decisões de carreira vão acompanhar a gente ao longo da nossa vida.

4. Cada ser humano é único

Apesar de clichê, essa frase tem grande aplicabilidade prática. Nós somos compostos da nossa cultura, das nossas experiências, das pessoas com quem trocamos e muito mais.

É impossível organizar todos os seres humanos em um número determinado de categorias. Podemos buscar semelhanças e diferenças entre as pessoas para categorizá-las, mas absolutamente todos os testes vocacionais falham em perceber a individualidade da pessoa. 

5. Relatório do teste vocacional

Você realizou o teste e recebeu o relatório… O que você faz agora? O que você fará com o relatório final do teste?

Infelizmente, você não vai poder contratar um teste vocacional para cada uma dessas escolhas. 

Por essa razão, é muito mais interessante que você aprenda a fazer escolhas do que realizar um teste vocacional para fazer uma escolha e não ter ferramentas para dar continuidade às suas decisões de carreira.

Sua carreira não pode ser resumida a uma escolha, você terá que tomar novas decisões muitas vezes ao longo da sua trajetória profissional. Ao terceirizar sua primeira escolha, ficará muito mais difícil tomar suas demais decisões. 

Parece muito interessante terceirizar a responsabilidade da sua decisão de carreira – uma decisão tão importante na nossa vida -, para o teste vocacional, mas a verdade é que a responsabilidade por nossas decisões é exclusivamente nossa, ainda que a decisão seja a de contratar um teste vocacional para realizar a decisão profissional. 

O teste vocacional não é um vilão, com senso crítico é possível tirar dela análises relevantes. Mas não esqueça de usar seu autoconhecimento e autopercepção para avaliar o resultado do teste. Nesse caso, o relatório será apenas mais um fator utilizado na sua decisão e não o responsável por ela.